Autora: Maria Dolores dos Santos Fiúza1
Cidade: Lauro de Freitas, Bahia.
1Graduada em Letras com Pós-graduação em Psicopedagogia Escolar e Clínica.
Terapeuta Holística Transpessoal. Profissional & Self Coaching. Doutoranda em Educação pela UNR – Argentina.
Presidente da Associação Beneficente Templo de Oração Holístico Vovô Pedro. Coordenadora Geral e docente no Curso de Pós-graduação em Educação Inclusiva, da Novvus3 Educação.
INTRODUÇÃO
A Geoterapia ou Argiloterapia, que compõe as várias opções das práticas integrativas e complementares, possui origem milenar, podendo ser definida como a utilização da terra para o tratamento e cuidado da saúde em seus diversos aspectos.
Nessa prática, a argila é hidratada e utilizada no paciente. Sua ação terapêutica se deve a inúmeras propriedades, pois é anti-inflamatória, antisséptica, bactericida, analgésica, desintoxicante, mineralizante, entre outras.
A argila é um elemento encontrado em abundância na natureza. Mediante a sua utilização, e principalmente por apresentar eficácia no tratamento de enfermidades e na manutenção da saúde, passou a ser valorizada como remédio desde as sociedades mais antigas.
No aspecto histórico, a importância da argila vem desde os primórdios da criação, visto que diversas religiões monoteístas concordam que Deus criou o homem do barro, soprando e dando-lhe vida, como se afirma em Gênesis II, 7.
A utilização de argilas como medicamento é feita desde a Pré-História, sendo tão antiga quanto a própria humanidade. Há indicativos de que o Homo Erectus fazia uma mistura composta por ocres (variedades de argila coloridas pelo óxido de ferro), água e diferentes tipos de lamas, com a finalidade de curar feridas e aliviar irritações.
Na Mesopotâmia (3000-2000 a.C.), por exemplo, a argila era utilizada para tratar feridas e também na contenção de hemorragias. No Antigo Egito, o papiro de Ebers, documento médico escrito aproximadamente entre 1536-1534 a.C., publicado em 1875 pelo egiptólogo George Ebers, com 110 páginas, descreve prescrições de forma sistematizada: cabeça, olhos, sistema circulatório, estômago e outros. Além disso, detalha a prática da avaliação clínica e a caracterização das doenças.
Hipócrates e Aristóteles foram os responsáveis pelas primeiras classificações de terras medicinais. As argilas recebiam um nome de acordo com o seu local de origem ou conforme sua composição mineralógica. Por exemplo: Terra Samia, Terra Sigillata, Terra de Lemnos, Terra Cimolia, Terra Sinope, Terra Erétria, Terra Negra, etc.
Os romanos foram os primeiros a fazer banhos contendo lama e algas. Construíram grandes locais para banho e os tornaram conhecidos por sua lama medicinal.
Durante a Idade Média, cataplasmas de argila foram usados, tanto nas medicinas populares como na veterinária. Avicena e Averróis, nos séculos IX e X, classificaram e recomendaram o uso de lamas como medicamento.
Entretanto, após o movimento iluminista na Europa, no século XVIII, que teve como característica a mobilização do uso da razão, assim como o cientificismo, no século XIX, que só considerava como verdadeiro o que podia ser observado e comprovado através da ciência, a Geoterapia começou a cair no esquecimento.
A terra só voltou a ser reconhecida como fator de cura no final do século XIX, com o renascimento do Naturalismo. O primeiro sinal do ressurgimento da Geoterapia foi o uso e a recomendação que o Abade Sebastian Kneipp, considerado o pai da hidroterapia, fez sobre cataplasmas de argila para a saúde. Para fazer as cataplasmas, era misturada argila com vinagre. Essas cataplasmas também eram utilizadas em animais.
Mas o verdadeiro inovador da Geoterapia moderna foi o naturopata Adolf Just (1859-1936). Ele passou a utilizar a argila após descobrir que o corpo humano é afetado pelo magnetismo terrestre. Assim, a pessoa poderia ter sua saúde melhorada ao andar descalça, em contato com a terra, e ao ter uma noite de sono em uma cama com uma mistura de ervas e terra.
No início do século XX, durante uma epidemia de cólera asiática, o Dr. Julius Stumpf utilizou doses orais de argila branca, obtendo sucesso com essa medida. Geofagia é o nome dado à ingestão de terra. A geofagia é uma prática antiga, que permanece até os dias atuais. Uma das justificativas para essa prática é que a argila é capaz de suprir deficiências nutricionais de minerais e tratar doenças gastrointestinais.
Recentemente, houve um aumento no interesse de alguns pesquisadores quanto ao uso anti-inflamatório da lama, material que é explorado pelo homem para fins medicinais há mais de vinte e cinco séculos.
Atualmente as pesquisas científicas estão comprovando, cada vez mais, as propriedades analgésicas e anti-inflamatórias das argilas.
Na contemporaneidade, as indústrias têm buscado o desenvolvimento de novas classes de matérias-primas argilosas com desempenhos diferenciados. Para oferecerem produtos com alto grau de qualidade, as argilas utilizadas para fins cosméticos e medicinais devem seguir uma série de requisitos de segurança química (pureza, estabilidade, inércia química), física (tamanho da partícula, textura) e toxicológica (controlado teor de metais pesados).
No Brasil, o órgão responsável por estabelecer normas e padrões de qualidade sobre limites de contaminantes, metais pesados e outros que envolvam risco à saúde, bem como o acompanhamento e execução das políticas, diretrizes e ações de vigilância sanitária, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Classificação das Argilas
As argilas podem ser classificadas pela sua cor e finalidade a que se destinam, dependendo da sua composição química.
Os elementos mais presentes nas argilas são Zinco, Cobre, Magnésio, Potássio e Cálcio e Ferro, sendo que sua concentração determina tanto a cor da argila quanto sua função.
Abaixo, um quadro contendo a cor da argila, os elementos principais e os seus benefícios:

Argila Terapêutica
A argila, por possuir partículas microscópicas, tem um elevado poder de absorção de toxinas e calor. Além disso, existem 3 fatores que ajudam a explicar sua ação terapêutica:
- Composição geológica;
- Composição química;
- Troca de energia com a área afetada.
A argila é capaz de absorver a energia danosa acumulada na área doente e transmitir sua energia de elevada qualidade vital. Por exemplo: compressa fria de argila em processos inflamatórios. Ela torna-se quente, pois absorve o calor da região doente.
Aplicada no tratamento medicinal, a argila atua como material anti-inflamatório, refrescante, desintoxicante, cicatrizante e calmante, fortalecendo os órgãos internos. Elimina as células mortas ou danificadas e as impurezas, além de agir como bactericida e antiparasitária.
A argila não somente absorve os germes perigosos, mas também é capaz de regenerar os tecidos danificados através de seus elementos físico-químicos (CLAUDINO, 2010).
Sua ação vital pode alcançar o sistema nervoso central, aliviando dores e tensões. Quando a argila é utilizada fria, absorve a febre dos tecidos, diminuindo as dores das inflamações e levando ao equilíbrio térmico do corpo. Já quando usada morna ou quente, suaviza os tecidos, deixando-os relaxados (PERRETO,2008).
A união de determinados elementos minerais presentes na argila lhe fornece propriedades curativas, como as listadas a seguir:
- Libera os interstícios celulares;
- Elimina toxinas;
- Promove a microcirculação cutânea;
- Em algumas religiões, permite a troca de energia dos minerais com a parte afetada;
- Promove uma microabrasão (peeling suave);
- Regula a produção sebácea;
- Regula a queratinização;
- Regulariza a temperatura do órgão enfermo, uniformizando a irrigação sanguínea (DORNELLAS e MARTINS, 2009).
Segundo Spethmam (2004), a compressa é o método mais utilizado na geoterapia, podendo ser aplicada pura ou combinada com outros elementos, como óleo de amêndoas, vinagre, mel, abacate, camomila, pólen de flores, etc. O uso de argilas com óleos essenciais também dá ótimos resultados estéticos e terapêuticos.
“Essas compressas de argila podem ser aplicadas em qualquer região do corpo, diretamente no local enfermo” (SPETHMAM, 2004). Entre os principais locais de aplicação, destacam-se a cabeça, tórax, pernas, pés e lombar. A duração da aplicação das compressas é de no máximo duas horas.
A geoterapia é uma prática não recomendada para gestantes ou pacientes no período menstrual (CLAUDINO, 2010).
Propriedades da Argila
A argila possui três propriedades importantes:
- Absorção: a principal característica que lhe atribui esta propriedade é a maleabilidade; quando se mistura argila com água, obtém-se uma pasta eficaz no tratamento de inflamações, edemas e inchaços.
- Liberação: a argila tem facilidade para liberar elementos que fazem parte de sua constituição (ativos), sendo muito importante pelo seu efeito protetor e absorvedor de toxinas em vários órgãos, principalmente a pele e mucosas.
- Adsorção: um processo físico-químico pelo qual as argilas deixam passar moléculas, elementos gasosos e partículas microscópicas do meio ambiente e bactérias, com o intuito de deslizaram para o interior da pele. Esse processo é muito importante para uma posterior eliminação das toxinas.
Suas propriedades normalizadoras devem-se às trocas energéticas, iônicas e radiônicas, exercidas pelos elétrons livres existentes nos minerais de sua composição, tais como: manganês, magnésio, alumínio, ferro, sílica, titânio, cobre, zinco, cálcio, fósforo, potássio, boro, selênio, lítio, níquel, sódio e outros.
Outro aspecto interessante é que a argila possui uma inteligência ao trabalho que vai se realizar, seja ele sedar, tonificar estimular ou absorver, além de potencializar o sistema imunológico.
A Geoterapia na prática
A geoterapia, sendo uma terapia alternativa e natural, por utilizar os recursos da natureza, como barro, argila, pedras e cristais, ajuda na recomposição do equilíbrio e bem-estar do sujeito. Isto porque a geoterapia – também conhecida como argiloterapia – ajuda a diminuir dores musculares e tensões, além de ser um anti-inflamatório poderoso.
A “terra” como recurso de poder, de criar, reproduzir, obviamente que é “cura”, elemento forte, é riquíssimo em energias minerais, metais e luz solar. É esse elemento que nos leva à consciência da existência.
Além de observar durante as práticas sua capacidade de cura, observamos reações também nos clientes, após atendimentos, reações de maior dinamismo e conexão com seu momento presente.
Ao preparar a argila, devem-se usar recipientes que não sejam de metal, exceto aço inoxidável, e misturar com água tépida, até formar uma pasta cremosa. Costumo usar óleos essenciais, escolhendo a essência adequada, associando-a à necessidade do cliente. Também costumo agregar a prática da cromoterapia durante aplicação da argila.
A prática consiste em espalhar a argila na região afetada (previamente limpa) e deixar agir entre 20 a 30 minutos, e depois retirar com água morna. O efeito é perfeito.
Outra forma de utilização da Geoterapia é levar o cliente a ter contato direto com a terra, com os pés descalços. Nessa prática, faço uma abertura na terra, deixando um espaço para os pés ficarem bem acomodados, e realizo uma meditação induzida, de acordo com o processo de queixa do cliente, reconstruindo as células e os tecidos, reorganizando o organismo, pois muitas vezes o cliente está desenraizado, comprometido para obter uma melhora significativa.
Costumo também, numa prática de escuta qualificada, enquanto acomodo muito bem meu cliente na maca e às vezes no divã, fazer aplicações com os cristais, nos pontos onde associo as queixas do cliente. Ao final eles saem mais tranquilos, mais em paz.
As práticas naturais, enfim, são extremamente potentes na recuperação da saúde integral, especialmente, essa prática poderosa, a Geoterapia.
REFERÊNCIAS
- BONTEMPO, Dr. Márcio. Medicina natural. São Paulo: Ed. Nova Cultura, 1994.
- CLAUDINO, Hilton. Argila Medicinal. São Paulo: Ed. Elevação, 2010.
- DORNELLAS, Eliane; MARTINS, Sheila. O Poder das Argilas: Geoterapia. São Paulo, 2009.
- LOPES, L. F. M.; MEDEIROS, G. M. S. Argilas medicinais: potencial simbólico e propriedades terapêuticas das argilas em suas diversas cores. Universidade do Sul de Santa Catarina, UNISUL, Santa Catarina, 2014.
- MEDEIROS, G. M. S. O poder da argila medicinal: princípios teóricos, procedimentos terapêuticos e relatos de experiências clínicas. Blumenau: Nova Letra, 2013.
- PERETTO, Iracela C. Argila: um santo remédio e outros remédios compatíveis. São Paulo: Paulinas, 2008.
- SPETHMANN, Carlos N. Medicina Alternativa de A a Z. 7. ed. Uberlândia – MG: Natureza, 2004.