[1] Artigo apresentado pela Doutoranda em Ciências da Educação. Universidad Nacional de Rosario. Rosario-Argentina. Graduada em Letras pela Universidade Norte do Paraná e pós-graduada em Psicopedagogia.
Autora: Maria Dolores dos Santos Fiúza1
Cidade: Lauro de Freitas, Bahia.
1Graduada em Letras com Pós-graduação em Psicopedagogia Escolar e Clínica.
Terapeuta Holística Transpessoal. Profissional & Self Coaching. Doutoranda em Educação pela UNR – Argentina.
Presidente da Associação Beneficente Templo de Oração Holístico Vovô Pedro. Coordenadora Geral e docente no Curso de Pós-graduação em Educação Inclusiva, da Novvus3 Educação.
RESUMO
A análise das relações entre educador e educando na escola contemporânea é a base deste trabalho. Aqui se buscou abordar os diversos aspectos que permeiam as relações interpessoais no ambiente escolar, desde as concepções da escola tradicional, até as perspectivas que apontam para a construção de um novo modelo de relação entre os sujeitos que o compõem. Para tanto, é necessário ampliar o olhar sobre as mudanças na sociedade e, por conseguinte, no ambiente educacional. Por isso é válida a oportunidade de realizar transformações que suscitem a construção de novos tempos e modos de se relacionar. Sustentadas na proposta de diálogo de Paulo Freire e nas orientações sobre a educação centrada na pessoa, de Carl Rogers, as reflexões apresentadas neste artigo apontam para novas diretrizes da relação entre educador e educando, fundamentadas na afetividade, seguindo as orientações teóricas que sustentam a temática. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, aliada à experiência pessoal relacionada aos conceitos investigados. A conclusão a que se chegou foi a de que a escuta sensível e o respeito à experiência do outro permitem a abertura para diferentes diálogos e trocas intersubjetivas. Sem sombra de dúvidas, um aprendizado que vai além das propostas conteudistas de aquisição de conhecimento. No entanto, a relação entre educador e educando requer, acima de tudo, afeto. Além disso, a responsabilidade dos sujeitos participantes na condução do processo de ensino e aprendizagem, permitindo o compartilhamento de experiências singulares dos universos de cada um.
Palavra chave: Diálogo. Educador. Educando. Afetividade
1 INTRODUÇÃO
Partindo do pressuposto de que os seres humanos são integrantes e se relacionam com o mundo, a vida só existe na relação do ser com o outro. As relações se estruturam por intermédio da interação das pessoas com instituições em diferentes contextos sociais, políticos e econômicos.
Assim, a educação escolar ocorre na interconexão do educando e do educador com o mundo, como complementa o educador brasileiro Paulo Freire (2003): “partimos de que o homem, ser de relações e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o mundo, e que a educação se estrutura no respeito do outro e ao seu saber.”
Diante deste contexto, o sentido da relação educador e educando se estrutura na abertura ao outro e na diversidade dos alunos de uma sala de aula. Relação inteira que provoca o encontro mútuo sem pressupostos anteriores.
Notamos, nos dias atuais, que prevalecem a experiência e a utilização de pessoas, conhecimentos e relações, frutos de uma ciência positivista que por anos estruturou o pensamento e os caminhos da humanidade.
Ao estabelecermos um diálogo com o ambiente escolar, vemos que as relações entre educador e educando se fundamentam na atitude “Eu e isso”. Isto é, ao educador cabe a tarefa de dar aulas, usar metodologias de ensino e critérios de avaliação para verificar a aprendizagem dos alunos. Aparentemente um processo simples e seguro: dar a matéria e verificar o aprendizado.
Em contrapartida, as cenas a que temos assistido nos bastidores da instituição escolar – indisciplina, agressão física, analfabetos funcionais – mostram a fragilidade de atuar apenas com o intelecto, de maneira restrita.
Trata-se, portanto, de buscar brechas na regulamentação do cotidiano escolar para vivenciar relações humanas e vivas, o que engendra a necessidade de abertura, de disponibilidade de dar a mão ao outro.
2 METODOLOGIA
O caminho adotado consistiu na análise das relações interpessoais que permeiam a prática educativa, tendo como base a metodologia da análise documental através de pesquisas em livros e publicações, bem como as minhas próprias experiências como docente, a fim de buscar o sentido da relação existente entre educador e educando no ambiente escolar. Ressaltou-se, também, a abordagem em torno da humanização como chave para possibilitar uma educação transformadora e libertadora.
Em face do objetivo traçado, a análise fundamentou-se nos autores que embasam teoricamente a questão em torno da relação existente entre o educador e educando, à luz da descrição dos fenômenos que dão sentido a essa relação.
3 REVISÃO DE LITERATURA
Repensando as relações educacionais
Percebo em minha prática de educanda e educadora a reincidência da relação afetiva e prazerosa com uma disciplina interligada a laços afetivos criados com o educador, seja por um sorriso ou um acolhimento, ou ainda um desafio. O oposto ocorre na relação de terror com a disciplina devido ao medo ou pânico causado por um professor.
Segundo Freire (1996), o que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, ou este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança. Sendo assim, o papel do educador na constituição das comunidades é fundamental.
Intencionalmente o professor educa com a sua vida, seus conhecimentos, desejos e desafios; nesta trajetória o papel do educador se estrutura em ajudar a desvelar, junto com a comunidade escolar, as cobranças sociais exigidas e, em diversos momentos, aceitas com naturalidade.
A dificuldade dos adultos em aprenderem a lidar com a diversidade nas entranhas da modernidade é grande. O conhecimento linear requer reflexão, compreensão para lidar com a incerteza, com o erro e o diferente. Em outras palavras, os aspectos aqui citados apontam para a criação de uma educação pautada em vínculos e parcerias.
Os conflitos no ambiente escolar retratam esta dificuldade de lidar com a diversidade dos alunos. Portanto, é preciso ter cuidado com o ser humano em sua totalidade, com o corpo, a mente, os sentimentos, as emoções.
O sentido das relações centra-se no movimento de repensar a educação dialogando com o outro através de uma constituição de comunidade, ou seja, grupos interdisciplinares. Para tanto, deve existir uma escuta refinada, participação efetiva do educador. Conversar significa estar com, encontrar-se, religar-se, libertar-se. Não estou com isso buscando uma saída para a educação. Busco diversas saídas pautadas no contexto local dos educadores e educandos, em suas histórias de vida, vínculos grupais, e essa entrelinha potencializa a capacidade criadora de cada indivíduo.
A essência está na convivência com as diferenças no labirinto da educação, na coexistência com o outro. Lidar com a diferença propicia refletir, mudar de opinião, ser coerente com a visão de mundo, abrir-se para o diferente e para o inédito da vida.
Educar significa formar pessoas capazes de desejar um mundo melhor. Educar não significa letrar o aluno, fazer dele ambicioso a adentrar na academia e ansiar o diploma. Educar significa formar pessoas capazes de desejar um mundo melhor sendo melhores: respeitando, compreendendo, contribuindo na proliferação de sujeitos conscientes das suas potencialidades com afeto e disciplina.
A educação não parte de um momento próximo. A inteligência se apresenta desde a formação do homem. E é bíblico o convite ao saber no trecho: “o Verbo habitou entre nós” (João 1:1-2 e 14). Trata-se de um convite a multiplicar, de forma clara, a inclusão e a partilha dos saberes.
Temos como um bom exemplo o filósofo Sócrates, que tentava levar o conhecimento sobre as coisas do mundo e do ser humano através da palavra e do diálogo, convidando seus interlocutores a buscarem a riqueza que havia dentro de si mesmos.
Assim, um mestre deve admitir que também não é senhor e dono da verdade. Deve apenas saber que se encontra como mediador entre o que pode ser conhecido e quem quer conhecer. Ao passo que um aluno deve se mostrar aberto a questionar o que é considerado ou não como verdade absoluta. Caso contrário, permanecerá na escuridão do falso conhecimento, e assim será uma fonte de erro, sem a possibilidade de suprir a carência de sua alma perante a realidade.
Caminhos e descaminhos da educação
A educação tradicional preocupava-se muito com o retorno avaliativo. Era a forma de reconhecer as potencialidades dos aprendizes, através de provas, testes; entretanto, hoje se percebe que a avaliação, mesmo sendo importante no ambiente escolar, não é mais a meta primordial de retorno do conhecimento. O que importa atualmente é levar os alunos a amadurecerem e utilizarem adequadamente os conhecimentos aprendidos. Sendo assim, no espaço educacional deve-se ter como objetivo a formação dos alunos como pessoas e levá-los a terem um conhecimento real do conteúdo, ou seja, ajudá-los a aplicar no dia a dia.
Com isto não se propõe um abandono à educação tradicional, mas um incentivo a considerar também o processo de aprendizagem dos alunos, visto que a maior preocupação do educador é com a formação de um sujeito participativo, instigado por movimentos que favoreçam o seu bem-estar.
Por outro lado, a educação cresce, com grandes propostas e investimentos, entretanto, sem coração. Todos os conhecimentos, então, serão perdidos e retardarão a conquista de uma educação centrada no sujeito.
Segundo Carl Rogers (1987), “a abordagem centrada na pessoa refere-se à capacidade de relacionar-se com o outro.” É daí que surge a aprendizagem centrada no aluno. Ele nos convida a trabalhar a afetividade, a oportunizar a escuta e perceber o universo de cada aprendiz e suas frustrações; com essa interação, o sujeito se perceberá coparticipante dessa troca que é o saber e, por fim, irá se sentir participativo no progresso global.
Segundo Edgar Morin (2002), é preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe.
Em entrevista concedida ao Jornal “O Globo”, em agosto de 2014, às vésperas de sua participação como conferencista no encontro internacional “Educação 360”, no Rio de Janeiro, o autor afirma:
Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente. (Morin, 2014)
Nessa entrevista Edgar Morin nos leva a refletir quanto à importância da educação oferecida por um profissional que ama o que faz, que tem como aliado o afeto. O progresso educacional se dá a partir do momento em que há envolvimento, em que há alma. Entretanto o fracasso educacional parte de um processo puramente de cálculos e interesses pessoais. A consciência da responsabilidade de despertar os saberes precisa ser estimulada e colocada em prática no momento em que se opera o ato educativol. Educar é resgatar poderes, precisa ter como recurso o sentimento de respeito, de compreensão ao ativar o desejo do saber.
Enfim, é imprescindível, no atual contexto, a busca é por uma educação onde exista o resgate do poder do sujeito de construir em grupo, respeitando o processo de cada um e contribuindo para os avanços coletivos.
Tendo em vista o conturbado ambiente que envolve o processo de aprendizagem, inclusive com graves problemas sociais pelos quais passa o país, ter um diagnóstico com uma visão integral do sujeito pressupõe encarar o fracasso escolar com um novo olhar. Um olhar que conduza o ser a uma gama de novas perspectivas que, se bem observadas, contribuirão para uma conduta mais equilibrada nas relações interpessoais.
Certamente, a educação também luta por uma forma de educar holística, que atenda as necessidades do homem integral, despertando nele seus poderes e direitos enquanto homem criado para crescer e multiplicar saberes. Entretanto, somente com a internalização do seu compromisso consigo esse sujeito abre-se para novas possibilidades e se capacita para esses cuidados.
Uma educação que parte desse princípio, de preparar o aprendiz, despertando-o e cuidando dele como ser humano, reconstruindo um universo muitas vezes fragmentado, é que possibilitará uma consciência ampla para a sua contribuição e participação como multiplicador de uma espécie tão rica e completa: o homem.
A afetividade e o despertar do saber
O progresso nos convida a termos um olhar diferenciado. Temos alternativas de implantar opções que despertem o desejo do saber no educando, sem sofrimento.
Educar sempre foi uma missão. Ontem, uma missão árdua, visto que existia um grande obstáculo entre o professor e o aluno; hoje existem pontes que ligam e manifestam um prazer insaciável e provocador. Ontem pedras e códigos; hoje palavras e pensamentos nos levam a despertar para uma fonte de conhecimento grandiosa, que tem como objetivo resgatar a autoestima do aluno. Entretanto esse pressuposto não terá êxito se não houver respeito às necessidades do aprendiz.
Na verdade, esse resgate não deve ser baseado no pensar e no desejo do mestre, e sim na composição social do aluno. Observo nessa década também uma grande necessidade de validar as pontes iniciais educacionais; claro, peneirando e colocando a felicidade do aluno como base.
Acredito que o troféu do professor seja a felicidade do aluno em processo de aprendizagem. Não podemos acompanhar uma romaria de pessoas crescendo, acessando as possibilidades alheias, sem assumir seus deveres, com os dons mortos ou esquecidos.
Esse progresso nos mune de saberes. Ao unir várias culturas, possibilita uma beleza grande nesse universo do saber, proporcionando uma satisfação à sensibilidade estética do indivíduo, tornando-o holístico e grande no que diz respeito a tantos saberes. Ou seja, uma cultura rica em valores, que permite a esse indivíduo se inteirar e participar do crescimento do outro, sendo grande em respeito, sendo ético e ampliando seu horizonte e o horizonte do seu semelhante – os convivas que entraram nessa pirâmide de crescimento Universal.
É claro que, para os profissionais da educação modificarem suas propostas educativas, devem visar a satisfazer não só o hoje, mas procurar ter um olhar rico em possibilidades para amanhã, no que diz respeito ao produto do desenvolvimento científico e tecnológico, que exige a formação de um aluno com um desenvolvimento mais ativo, pessoal, criador, construtor de seu conhecimento, capaz de encontrar soluções e novos insights sobre os problemas.
Contudo, se não adentrarmos no real sentido de vida desse indivíduo, não iremos atingir nosso objetivo enquanto educadores, que é inseri-los ativamente numa sociedade onde possam interagir na construção do progresso global, enfrentando os seus desafios.
O conceito de educação que adere a essa proposta é aquela que enfatiza a pessoa, seu potencial, sua capacidade de autorrealização, suas descobertas sobre o sentido da vida, e o que dá sentido a essa busca.
A política de educação com abordagem humanista é contrária à política de educação tradicional. O aluno é o centro. O facilitador fornece um clima psicológico no qual esse aluno seja capaz de assumir o controle responsável e incentiva o foco no processo, na experiência, na maneira em que a aprendizagem ocorre.
Segundo Rogers (1973), política de educação:
“Tem a ver com poder ou controle nas relações interpessoais e na medida em que as pessoas estão determinadas a obter esse poder ou abdicar dele. Tem a ver com táticas e estratégias pelas quais as pessoas exercem controle sobre o outro ou delegar tal poder. Tem a ver com a maneira pela qual as decisões são tomadas. Quem leva? (…) Tem a ver com os efeitos sobre indivíduos ou sistemas de tais ações voltadas ao poder.” (ROGERS, 1973).
Ou seja, para mudar a maneira de pensar e agir no processo de ensino e aprendizagem, é necessário mudar a filosofia, a maneira de compreender o processo. É preciso compartilhar autoridade, responsabilidade e classes de gerenciamento.
As escolas não devem tornar-se sistemas especializados em remover sonhos e tolher a criatividade dos alunos, transformá-los em máquinas para atender ao mercado de trabalho, sem preocupação com a vida, com a esfera emocional e com a felicidade das pessoas.
Alguns dizem que o problema da educação no Brasil é a falta de recursos. Sim, há falta de recursos, mas os recursos não tornarão escolas mais inteligentes. Computadores, televisores e outros recursos tecnológicos não substituem o cérebro. Meios técnicos podem ajudar, mas as escolas não. Deve-se investir no ser humano (professor) interagindo com outro ser humano (aluno), que por sua vez irá interagir com outros seres humanos: seus futuros clientes.
Sendo assim, o processo de ensino-aprendizagem deve fomentar o desenvolvimento do aluno, o seu constante autoaperfeiçoamento, sua autonomia e sua autodeterminação, tornando-o mais socialmente comprometido.
A formação e o desenvolvimento começam no nascimento e não terminam nunca. “Afogar” professores e alunos é não permitir o desenvolvimento da criatividade, da liberdade e da autonomia. Há pessoas ou grupos que discordam politicamente e querem inibir a discussão aberta; a relação professor-aluno, por sua vez, é casual.
As mudanças são assustadoras. É mais fácil e mais “seguro” retornar à educação estritamente definidora. Muitos “donos da verdade” acham que sabem, que o conhecimento absoluto é uma verdade incontestável. Eles acham que a sua opinião sobre o que é verdadeiro e falso é o que deve ser ensinado. Mas a verdade é desenvolvida a partir da interação de todos.
Segundo o ponto de vista conservador, não deve haver liberdade de aprender. Os alunos devem aprender o que é imposto, sem pergunta ou comentário. Não pensar por si, mas repetir o que lhes é transmitido (modelo de transmissão-recepção). Porém, fatores interpessoais hoje estão recebendo grande atenção dos estudiosos, que se preocupam não só com o processo de aprendizagem, mas também com o tipo de relacionamento que o futuro profissional terá sobre sua vida.
Uma parte importante dos efeitos da construção do conhecimento e de relacionamentos é originária das atitudes do professor, de suas crenças básicas sobre a natureza e o comportamento dos seres humanos, de sua capacidade de compreender, incentivar e facilitar processos de desenvolvimento dos alunos. O professor atua como um catalisador no processo de ensino-aprendizagem.
Uma das contribuições para ter sucesso neste campo é a Abordagem Centrada na Pessoa. A partir de sua teoria da personalidade e das relações humanas, Carl Rogers oferece propostas de reformulação que devem atingir a escola, o ensino, a avaliação, o currículo e a hierarquia de poder.
A Universidade promove uma riqueza de informação teórica, mas não dá aos alunos condições para alcançar um crescimento como ser humano, para aprender a interagir com os outros. Conhecimento intelectual por si só não é garantia de mudanças de boa qualidade ou avanços nos relacionamentos.
Sabe-se que a Abordagem Centrada na Pessoa, na teoria, enfatiza o desenvolvimento do potencial humano para alcançar o crescimento pessoal. Na época, Rogers acreditava que o indivíduo não pode ser entendido sem conhecer o processo histórico de toda a dinâmica de personalidade de avós, pais, tios e tias, e, finalmente, incluindo o “paciente”.
“Eu vou ter um monte de informações sobre essa pessoa: sua história, sua inteligência, suas habilidades específicas, sua personalidade. Desta forma, posso fazer um diagnóstico feito das causas do seu comportamento atual, dos recursos pessoais e sociais para lidar com a situação, e o prognóstico para o seu futuro. Vou tentar interpretar isso em uma linguagem simples, as instituições responsáveis, os pais e a criança, se fossem capazes de entender. Vou fazer sugestões eficientes que, se cumpridas, irão mudar o comportamento e reforçar estas sugestões através de contatos repetidos. Contra tudo isso ficará totalmente objetiva, profissional e nenhum problema com essas pessoas me afetará, salvo na medida em que o calor pessoal é necessário para se estabelecer uma relação satisfatória.” (ROGERS,1987)
Então, penso que um olhar amoroso e consciente faz do educador um grande construtor; que educar é lidar com o mais precioso e sublime; é estar tocando numa pérola que pode ter um grande brilho e transformar-se num belo colar.
Entretanto, se essa pérola for frustrada, poderá recuar e nunca mais sair da concha com medo da represália. E perderemos mais um construtor nesse mundo com tantos recursos, porém, necessitado de zelo, nesse espiral de avanço ilimitado. Cuidar dessa pérola: eis o compromisso do educador!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo refletiu, brevemente, sobre a importância da relação entre educador e educando no processo de ensino-aprendizagem, a partir do permanente diálogo com as fundamentações teóricas que sustentam a temática.
Nesta breve exposição, entendeu-se que o ser humano não existe sozinho; ao contrário, ele se faz na relação com o outro, por intermédio da comunicação. E o caminho para a comunicação ocorre através de trocas intersubjetivas, ou melhor, na interação dos indivíduos, bem como dos indivíduos com o conhecimento.
No atual contexto, coerente com a proposta educativa, é preciso investir na relação entre educador e educando, estruturando-a no respeito ao outro e ao saber do outro, ambos sujeitos do processo. Isto porque, já que ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.
Ao educador cabe partir do contexto do educando no mundo, de seu lócus de atuação e vivência, para juntos caminharem na superação do conhecimento comum para o conhecimento crítico.
Esse entendimento parte da compreensão acerca do pensamento de Freire, que sinalizou o ser humano como sujeito no processo educativo, autor de sua história no mundo histórico e cultural. Dessa forma, as relações entre educador e educando devem ser pautadas no respeito à diversidade dos alunos e à aprendizagem em permanente diálogo com o diferente. Contudo, respeitar não significa manter cada um com seu saber. Uma proposta de educação inovadora considera cada indivíduo com o seu saber prévio, mas que, na relação com o outro, este se torne um saber crítico.
Assim sendo, é possível considerar que as relações entre educador e educando permeiam a base da proposta educacional freireana, com vistas a um olhar crítico da realidade e, consequentemente, para a sua transformação. Nesse sentido, a parceria entre os sujeitos do processo educativo é fundamental, pois é a partir daí que cada um será capaz de escrever sua história individual, como elemento importante na organização das classes sociais e educativas. Sendo assim, o papel do educador na constituição das comunidades é fundamental.
Ainda que não tenha plena consciência disso, o professor educa com a sua vida, com os seus conhecimentos, desejos e desafios. E, nessa trajetória, vê e recebe o educando em sua totalidade de emoções, buscas e medos. A sua tarefa consiste em ajudar a desvelar, junto com a comunidade escolar, as cobranças sociais exigidas e, em diversos momentos, aceitas com naturalidade.
Por diferentes meios, e educador deve atuar como provocador, estimulando a liberdade, a autonomia e a imaginação criativa dos educandos, a partir de uma escuta sensível, que se estrutura na apreciação do outro em sua totalidade, abarcando as diferenças e a percepção da complexidade humana.
Dessa forma, fica evidente a necessidade de atribuir um novo sentido para as relações no ambiente educativo como uma vertente para repensar a estrutura da educação contemporânea.
A conclusão a que se chegou foi que as relações no ambiente educativo apontam para a abertura a diferentes diálogos e trocas intersubjetivas, não como uma teoria fechada. Ao invés disso, deve-se perceber o aprendizado como elemento fundamentado na coexistência entre os diferentes. No entanto, a relação entre educador e educando precisa ser repensada e ressignificada, pois prescinde da responsabilidade dos sujeitos participantes.
Portanto, o sentido da relação entre educador e educando apoia-se na construção de vínculos afetivos entre os agentes do processo educativo, pautada em princípios de respeito, humildade, espera, coerência e desapego. Contudo, tal construção se fundamenta na abertura para o a aprendizado de lidar com o diferente, de conviver com as estabilidades e instabilidades da complexidade humana.
Fica, então, o entendimento de que lidar com a diferença propicia refletir, mudar de opinião, ser coerente com a própria visão de mundo e, ao mesmo tempo, abrir-se para o diferente e para o inédito da vida.
REFERÊNCIAS
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_________Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à pratica educativa. Editora Paz e Terra. São Paulo,1996.
_________, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação.RevistaSão Paulo em Perspectiva, São Paulo, vol.14, n.2, pp. 03-11, 2000.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2002.
ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
_____. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973.
Site:
http://www.fronteiras.com/entrevistas/entrevista-edgar-morin-e-preciso-educar-os-educadores
[1] Artigo apresentado pela Doutoranda em Ciências da Educação. Universidad Nacional de Rosario. Rosario-Argentina. Graduada em Letras pela Universidade Norte do Paraná e pós-graduada em Psicopedagogia.
Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4306594Z9